Blog Alma Missionária

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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

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O inferno – morte eterna, existência na contradição – I 
            Depois de termos falado da Vida eterna, que é a comunhão plena com o Pai através do Filho na potência do Espírito, a que chamamos de céu, vamos agora tratar da perda eterna desta comunhão com o Senhor, a que chamamos de inferno. Mas, antes, é necessário levar em conta três coisas importantes: 
1) Segundo a Escritura Sagrada e a fé cristã a história humana e a criação não têm dois fins, mas apenas um: a salvação. Em outras palavras: tudo caminha para a salvação, porque, como já vimos, Deus criou tudo para a comunhão com ele através do Filho Jesus. Deste modo, o triunfo de Cristo e dos seus é uma certeza absoluta: a humanidade será salva na glória eterna e a criação toda será transformada. E a condenação eterna? É possível, para aqueles que não quiserem entrar na salvação que Deus oferece a todos! Dá para perceber a diferença? A salvação é para todos, é o destino de todos… a não ser daqueles que ficarem, livremente, fora dela. A condenação é, portanto, acidente de percurso, é escolha particular e não um destino que Deus colocou diante do homem! Deus nunca pensou em condenar ninguém: “Sim, tu amas tudo o que criaste, não te aborreces com nada do que fizeste; se alguma coisa tivesses odiado, não a terias feito. E como poderia se manter alguma coisa, se não a tivesses querido? Como conservaria sua existência, se não a tivesses chamado? Mas a todos perdoas porque são teus: Senhor, amigo da vida!” (Sb 11,24s). Pois bem: Deus quer a salvação de todos, a vida de todos. Não é um Deus neurótico, que sente prazer em condenar e destruir o que ele mesmo criou com amor! Assim, é necessário deixar clara logo uma coisa: os textos da Escritura que falam de uma condenação eterna de modo nenhum podem simplesmente ser colocados ao lado dos que falam da salvação! A mensagem da Escritura é de salvação; Jesus trouxe uma Boa Nova, uma Alegre Notícia, um Evangelho: o Pai nos ama e nos quer com ele – esta é a mensagem central da Escritura. Eu posso dizer “não” ao Pai e ficar fora da salvação, ser condenado. Mas a condenação não é a finalidade da Escritura nem a sua mensagem central! Você já havia pensado nisso? E pensar que tem tanta gente e tanta religião que faz do inferno a sua pregação principal e vive pregando a ameaça do inferno para os outros… e chamam isso de pregar o Evangelho, a Boa Notícia! 
2) Falar do inferno, da morte eterna envolve diretamente cada pessoa; não se deve falar do inferno para os outros! Para a Bíblia deve-se falar do inferno com o seguinte pensamento eu posso dizer “não” à proposta de salvação que Deus me dirige! Assim, não se pode falar do inferno de modo neutro, como se eu não tivesse nada com isso, como se o inferno fosse para os outros. O inferno faz-me recordar que eu sou capaz de me fechar para Deus e, assim, chama atenção para a minha responsabilidade, para o que eu estou fazendo com minha vida. 
            3) Eu disse que Deus não pensou no inferno para nós e que o seu plano é de salvação. No entanto, falar do inferno exige responsabilidade! Tem gente que diz que o inferno não existe porque Deus é amor. Isso é um erro grave! Não se pode banalizar o amor de Deus: seu amor respeita a nossa liberdade: eu posso dizer “sim” e posso dizer “não”. O inferno existe e é possível para mim porque Deus respeita o “não” que eu lhe posso dizer! Se Deus não respeitasse o meu “não” também não respeitaria o meu “sim”; se não há inferno, também não há céu, pois um céu sem liberdade não seria céu nem seria amor nem seria digno do homem! 
            Tendo deixado claro estes três pontos, vamos prosseguir na nossa reflexão.
            O que a Sagrada Escritura afirma sobre o inferno? Vejamos! Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento insistem na bondade de Deus e de sua obra (cf. Gn 1): ele não criou nada para a morte (cf. Sb 1,13; 11,24), não quer a morte do pecador (cf. Ez 18,23; 33,11). Mais ainda: Deus revela-se como aquele que é amor (cf. 1Jo 4,8) e deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade (cf. 1Tm 2,4; 2Pd 3,9). O próprio Jesus anuncia somente a salvação – e isto é o Evangelho! Tal misericórdia manifesta-se nas várias parábolas de Jesus (cf. Lc 15). No evangelho de João Jesus afirma claramente que Deus, no seu amor, o enviou para salvar o mundo (cf. 3,17; 12,47). Assim, a doutrina da morte eterna não é parte integrante do Evangelho, ou seja, a morte eterna é um acidente, é um “não” nosso e não uma armadilha que Deus nos preparou!
            Contudo, apesar deste sentido marcadamente voltado para a salvação, presente nos textos bíblicos, a Escritura também aponta para a possibilidade de fracasso absoluto do homem, de um destino cujo horror ultrapassa qualquer experiência e ruim desta vida!
No Antigo Testamento, numa linguagem figurada aparece claramente o destino negativo dos pecadores. Por exemplo: “Ao sair, poderão contemplar os corpos dos homens que se revoltaram contra mim; pois o seu verme não morre, e seu fogo não se apaga; eles serão objeto de abominação para todos os mortais” (Is 66,4). O livro de Daniel fala claramente do opróbrio e horror eterno no final dos tempos: “Muitos dos que dormem na terra poeirenta, despertarão; uns para a vida eterna, outros para vergonha, para abominação eterna” (12,2). Também o livro da Sabedoria fala, em diversas passagens, do destino dos ímpios: “Sim, a esperança do ímpio é como palha levada pelo vento, como a espuma tênue que a tempestade espalha. Ela se dissipa como a fumaça ao vento, e se apaga como a lembrança do hóspede de um dia” (5,14-23). “Os ímpios receberão o castigo devido por seus pensamentos, pois desprezaram o justo e se afastaram do Senhor” (3,10). “Em breve tornar-se-ão cadáver sem honra, objeto de opróbrio para sempre entre os mortos: o Senhor os precipitará de cabeça para baixo, sem que digam palavra, e os arrancará de seus fundamentos. Serão completamente destruídos, estarão na dor e sua memória perecerá. Virão cheios de medo, quando se fizer a conta de seus pecados; suas iniqüidades se levantarão contra eles para os acusar” (4,19s).
Como se pode ver, o Antigo Testamento afirma claramente a possibilidade de uma condenação eterna para quem tornou-se fechado para Deus. Faz isso, usando imagens que mostram que aqueles que se afastam de Deus ficarão longe dele nesta vida e na outra.
No próximo tópico veremos como o Novo Testamento trata a questão do inferno. 
O inferno – morte eterna, existência na contradição – II 
            No Novo Testamento a idéia da condenação eterna exprime-se fundamentalmente como negação daquela comunhão com Deus que constitui a bem-aventurança, a Vida eterna: o inferno é a negação, a ausência da comunhão com o Pai. Daí as expressões como “perder a vida“ ou “perder a alma e o corpo na geena” (cf. Mc 8,35; Mt 10,28; Jo 12,25), “não ser conhecido” (cf. Mt 7,23), “ficar ou ser jogado fora” (cf. Lc 13,23s); “apartai-vos de mim” (cf. Mt 7,23), “não herdar o Reino” (cf. 1Cor 6,9s; Gl 5,21), “não ver a Vida” (cf. Jo 3,36). Todas estas fórmulas querem indicar a exclusão do acesso imediato a Deus através de Cristo. A conclusão é clara: o inferno não pode ser pensado por si mesmo, como realidade autônoma, mas a partir da negação daquilo que é a bem-aventurança. Somente podemos compreender a gravidade e tristeza do inferno quando percebemos a felicidade e plenitude do céu. Em outras palavras, o inferno é, fundamentalmente, a imagem invertida da Glória, a eventual frustração daquilo que Deus sonhou para o homem. Portanto, assim como o mistério da salvação, o céu que Deus nos prepara, podem expressar-se simplesmente com a palavra Vida, o inferno, a condenação eterna, pode ser expresso simplesmente pela palavra morte (cf. Lc 13,3; Jo 5,24; 6,50; 8,51; Jo 3,14; 5,16-17; Ap 20,14; Rm 5,12; 6,21; 7,5.11.13.24; 1Cor 15,21s; Ef 2,1-5; 1Tm 5,6, etc). Este estado de morte é tão definitivo e irrevogável quanto e de vida: é eterno, tanto quanto a felicidade do céu! Ou seja: como o céu, o inferno é para sempre! O Apocalipse fala de um tormento que dura eternamente: “E a fumaça de seu tormento sobe pelos séculos dos séculos. Não terão repouso dia e noite aqueles que adoram a besta e sua imagem e quem quer que receba a marca de seu nome” (14,11s). Além destas imagens negativas, o Novo Testamento oferece várias descrições, em imagens, da morte eterna: 
- fala-se em geena de fogo (cf. Mt 18,9);
- forno de fogo (cf. Mt 13,50);
- fogo inextinguível (cf. Mc 9,43.48);
- pranto e ranger de dentes (cf. Mt 13,42);
- lago de fogo e enxofre (cf. Ap 19,20);
- verme que não morre (cf. Mc 9,48). 
Todas estas imagens querem mostrar que a privação eterna de Deus supõe para o homem o trágico fracasso de sua existência e, portanto, supremo sofrimento. Se quiséssemos, hoje, dá uma idéia bem atual do inferno, deveríamos dizer que ele é como uma depressão eterna, uma solidão sem fim, uma melancolia sem cura, uma frustração sem remédio! A imagem do fogo, tão comum no Novo Testamento para exprimir a condenação, corresponde exatamente a esta idéia: fora da comunhão com Deus e com os outros, totalmente frustrada, a existência humana não serve para mais nada; é como uma árvore que não deu fruto, imprestável e que, portanto, só serve para ser queimada.
            Diante da possibilidade do inferno, muitos se perguntam: como é possível falar no inferno quando se crê num Deus que é bondade e misericórdia? É necessário recordar que o juízo de condenação não é simplesmente um decreto que Deus emite de modo vingativo ou cheio de zanga!: diante da luz da verdade, que é Deus, a própria pessoa se vê como é, vê a verdade de sua vida e se condena ao não aceitar o Cristo e sua palavra de salvação: “Se alguém escuta as minhas palavras e não as guarda, eu não o condeno, porque não vim para condenar o mundo, mas para o salvar. Quem me rejeita e não recebe minhas palavras, já tem quem o condene: a palavra que falei é que o condenará no último dia” (Jo 12,47s). Nesta mesma direção move-se a afirmação de Paulo: “Não sabeis que os injustos não possuirão o reino de Deus? Não vos iludais: nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os pederastas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os beberrões, nem os insultadores, nem os assaltantes, possuirão o reino de Deus” (1Cor 6,9s). Assim, que fique claro: o inferno é possível porque Deus respeita nossa liberdade, nossas escolhas! Se eu posso dizer um sim verdadeiro ao seu amor, também posso dizer não! E, como Deus respeita o meu sim, também leva a sério o meu não. E o sim e o não são ditos não com palavras, mas com a vida de cada dia! É isto que o Novo Testamento nos ensina! Deus quer a nossa salvação, criou-nos para a glória, para a comunhão com ele… mas a decisão é nossa… e Deus vai respeitá-la. Assim, não é Deus quem nos manda para o inferno como se estivesse irado ou com dor de cotovelo! Não: exatamente porque ele nos ama, respeita-nos, ainda que isto signifique a perdição eterna. Uma coisa é certa: o inferno não é para a glória de Deus: Deus não quer o inferno nem o criou para nós. A possibilidade do inferno é conseqüência do mal uso da nossa liberdade! 
            A Igreja, em toda a sua história, sempre insistiu na necessidade de levar a sério a nossa liberdade, nosso sim e nosso não! Assim, a convicção da existência do inferno aparece nos documentos mais antigos! Aparece também claramente a consciência, baseada no Novo Testamento, que o inferno é eterno. Somente Orígenes, o grande teólogo da Igreja antiga, ensinou de modo diferente: ele colocava em dúvida a eternidade do inferno: para ele os textos bíblicos sobre uma morte eterna têm apenas uma função educativa, de modo que as penas são, na verdade, medicinais. A alma teria sempre uma capacidade de reorientar a opção que fez durante a vida, mesmo depois da morte. Assim, Orígenes ensina a apocatástasis, ou seja, a restauração de todas as coisas. No final, portanto, não haveria ninguém – nem Satanás – no inferno. A Igreja condenou fortemente tal doutrina no Sínodo chamado endemousa: “Se alguém afirma ou retém que o castigo dos demônios e dos homens ímpios é temporário e terá fim após um certo tempo, ou seja, que haverá um restabelecimento (apocatástasis) dos demônios e dos homens ímpios, seja anátema”. Assim fica assentado pela Tradição eclesial a convicção a respeito da duração eterna do inferno. Mais tarde, São João Crisóstomo e Santo Agostinho irão deixar claro que a grande pena do estado de perdição é a exclusão do Reino de Deus, da comunhão com o Senhor: “Desde o momento que alguém é condenado ao fogo, evidentemente perde o Reino, e esta é a desgraça maior. Sei que muitos tremem só de ouvir o nome da geena, mas para mim a perda daquela glória suprema é mais terrível que os tormentos da geena. Acontecerá a morte sempiterna quando a alma não mais puder viver, ao não mais ter Deus”. O Concílio Lateranense IV, contra os albigenses, que defendiam a reencarnação, ensinava: “Todos ressurgirão com os corpos dos quais agora estão revestidos para receber, de acordo com a bondade ou maldade de suas obras, uns a pena eterna com o diabo, outros, a glória eterna com Cristo”. Mais tarde, a Constituição Benedictus Deus, do Papa Bento XII, fazia eco à fé da Igreja: “As almas dos que morrem em pecado mortal atual… descem ao inferno, onde são atormentadas com penas infernais”.
            Por enquanto, basta. No próximo tópico vamos concluir nossa meditação sobre o inferno. Uma coisa é certa: (1) a Escritura ensina a existência do inferno, (2) o inferno não é criação de Deus, mas fruto do mal uso da liberdade das criaturas, (3) o inferno é a negação de toda a felicidade do céu, é a frustração radical do homem e (4) o inferno é eterno.        
O inferno – morte eterna, existência na contradição – III 
            Vimos o que a Sagrada Escritura afirma sobre o inferno. A nossa apresentação ficou claro que o morte eterna, a condenação ou inferno consiste fundamentalmente em viver longe de Deus, que é a Vida, a fonte da nossa vida. Agora, vamos concluir com algumas reflexões finais.
            Ao pensarmos no inferno é necessário insistir sempre que o único fim da história e da humanidade é a salvação. Quem coloca no mesmo nível a promessa do céu com a ameaça do inferno, como se ambas as coisas tivessem os mesmos direitos e fizessem parte da mesma forma do plano de Deus, deturpa gravemente a fé cristã e elimina seu caráter de Evangelho, de alegre e boa notícia! Por isso mesmo, a Igreja, que testemunha a salvação definitiva de muitos santos, jamais emitiu um juízo de condenação eterna para alguém, jamais disse que há alguém no inferno!
            No entanto, é necessário não banalizar a convicção sobre a existência do inferno! Certamente o estado de perdição não é criação de Deus nem é por ele desejado: é fruto da livre opção da criatura, da nossa liberdade quando usada contra Deus. Deus não criou o inferno, como também não criou o pecado. O inferno é possível porque é possível o nosso “não” a Deus, “não” que Deus respeita, porque fruto de uma liberdade criada, mas que tem sua real consistência e autonomia. Muita gente pensa: Deus é bom demais para admitir o inferno! Este argumento é superficial e muito irresponsável! A possibilidade do inferno existe realmente porque existe realmente a possibilidade do céu: se eu não pudesse dizer um “não” autêntico a Deus, tampouco poderia dizer um “sim”; se não há inferno, tampouco há céu!
            Pode-se perguntar se o inferno é somente uma possibilidade ou se é algo que realmente pode ocorrer para o homem. A resposta depende de outra questão: alguém pode viver coincidentemente, em pleno uso de sua liberdade, fechado para Deus? Certamente é difícil imaginar alguém vivendo num “não” explícito e consciente a Deus, já que aquele que não crê não tem consciência de dar um não explícito a Deus  e o que crê não se atreveria a dar esse não! No entanto, não é impossível! Aqui estamos diante do mistério do homem e da profundidade de seus sentimentos e consciência! Além do mais, o Novo Testamento conhece um outro tipo de negação de Deus: aquela que se concretiza na negação do irmão, quer individual, quer socialmente (cf. Mt 25,31): sempre houve pessoas animadas por uma vontade demoníaca de negação do próximo, pisando nos outros, mentindo, corrompendo, oprimindo, provocando sofrimento! Quem prejudica gravemente o irmão diz não a Deus! Além do mais, se o homem não pudesse dizer um “não” radical a Deus,  tampouco poderia dizer um “sim” que seja expressão plena de si mesmo e da sua vida! O importante é notar que a escolha por Deus ou contra Deus dá-se na vida, nas nossas ações e opções de cada dia. Essas ações nossas, tomadas em seu conjunto, vão deixando uma marca indelével, que formam a nossa história e que será selada com a morte! Assim, o inferno revela-se como uma terrível possibilidade que não é uma teoria, mas um convite a uma decisão! O inferno, portanto, é possível! A humanidade será salva… mas eu, pessoalmente, posso ficar fora dessa salvação! É preciso, portanto, decidir-me por Deus, abrir para ele meu coração!
            Quanto à teoria da apocatástasis (de que todos, no final, vão ser salvos) é um exagero, que não está de acordo com a Escritura Sagrada: é verdade que a humanidade como um todo será salva… mas isso não garante que todos os indivíduos serão salvos (porque nem todos aceitarão essa salvação). O que é válido para a humanidade como um todo não tem que ser válido necessariamente para todos e cada um dos indivíduos, sob pena de destruir qualquer respeito pela liberdade humana.
            É necessário ainda perguntar pela essência da morte eterna: o que é essa morte eterna, morte segunda ou morte da alma? Trata-se do definitivo distanciamento em relação a Deus; perdê-lo eternamente. Nesta vida é impossível imaginar em que consista realmente o inferno porque ainda não temos experiência real do que significa perder a Deus, já que, enquanto peregrinamos, ele nunca está tão distante que não possamos alcançá-lo! O inferno é, portanto, um modo de existência completamente inédita: uma existência que já não tem sentido nem objetivo! É exatamente por esta não experiência atual do inferno que a Escritura fala por imagens. E pensemos: estar fora da comunhão com Deus deixará os condenados eternamente em desarmonia com eles mesmos, com os outros, com o mundo! O inferno é eterna frustração, profunda solidão e falta de sentido para tudo!
Aí a única linguagem possível é a não-linguagem do “ranger de dentes”; aí ninguém conhece ninguém, ninguém está em comunhão com ninguém. O inferno é o não-povo (contrário do Povo eleito), a não-cidade (contrário da Jerusalém celeste), a negação de toda comunhão! Em uma palavra, é viver na contradição visceral: criado para a comunhão com Deus, com os outros e com o mundo, o homem torna-se pura contradição, negação de si mesmo… alguém que vive na morte! Não é por acaso que o Apocalipse denomina tal estado de “segunda morte” (cf. 21,8).
            Ainda um última questão: quantos estão no inferno? Para dar uma resposta, é necessário levar em conta duas coisas:
1)   nada de apocatástasis (a restauração de todas as coisas, de modo que até Satanás seria convertido). Já vimos que o inferno é uma possibilidade bem real!
2)   por outro lado, é necessário levar em conta o desígnio salvífico universal de Deus: Deus que a salvação de toda a humanidade; criou-nos para a salvação! No entanto, é preciso não banalizar! Jesus advertia: “…se não vos converterdes, todos vós morrereis…” (Lc 13,4). “Alguém lhe perguntou: ‘Senhor, são poucos os que vão se salvar?’ Ele lhes disse: ’Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão’” (Lc 13,23s). 
Afirmar, portanto, que não há ninguém no inferno seria uma irresponsabilidade gritante e contrária à revelação! No entanto, levando em conta o desígnio salvífico universal de Deus, vale a pena considerar a seguinte reflexão: a esperança é uma virtude cristã, fundamentada na ressurreição de Cristo e no dom do Espírito. Ora, se devemos esperar na nossa salvação, será que a caridade não nos obriga também a esperar na salvação dos irmãos? Esta esperança universal é profundamente cristã! Temos a obrigação cristã de esperar que todos se salvem! Contudo, atenção: esperar não significa ter segurança! A esperança é uma virtude teologal que fundamenta tudo em Deus; a segurança apoia-se presunçosamente no homem. Permanecemos, portanto, em profunda esperança de que todos sejam salvos, dizendo “sim” ao apelo salvífico de Deus em Cristo… esperança que coloca tudo nas mãos de Deus e não se funda na nossa presunção! Sabemos, no entanto, que o homem é livre e pode dizer não…
            Com estas reflexões, terminamos nossa apresentação do que é o inferno. Que ela nos ajude a compreender o quanto é importante optar por Deus, dizendo-lhe sim com nossa vida, nos dias da nossa existência terrena.
            No próximo número, vamos meditar sobre o modo que os cristãos têm de encarar a morte. O que é a morte para a fé cristã?
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